LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia, Inglaterra, 1962)

Com um custo de 15 milhões na época, o filme arrecadou 70 milhões ao redor do mundo.

O Diretor

David Lean (1942 – 1991) foi um dos maiores diretores do século XX. Sua capacidade de filmar épicos grandiosos sem deixar de lado a humanidade de seus personagens foi o que garantiu que 4 de seus filmes estejam entre os 11 primeiros filmes da lista dos 100 Melhores Filmes Britânicos do British Film Institute. São eles: DESENCANTO (1945), GRANDES ESPERANÇAS (1946), A PONTE DO RIO KWAI (1957) e LAWRENCE DA ARÁBIA (1962). Seu último filme foi PASSAGEM PARA A INDÍA (1984), pelo qual foi indicado para 9 Oscars. Em seus últimos anos de vida tentou levar a cabo, com produção de Steven Spielberg, uma adaptação do romance NOSTROMO, de Joseph Conrad, mas faleceu antes disso. Algum tempo depois o projeto acabou se tornando uma minissérie da BBC dirigida por Alastair Reid.


Lean, no set de LAWRENCE.
O filme foi rodado em locações na Jordânia, Marrocos, Espanha e Inglaterra.

Sinopse

Durante a 1ª Guerra Mundial, T.E. Lawrence, um soldado britânico que passara vários anos de sua juventude no Oriente Médio, é enviado por seus superiores para servir de contato com os árabes para solicitar sua ajuda na guerra contra o Império Otomano. Apaixonado pela cultura beduína, Lawrence acabará por se envolver pela causa árabe a ponto de não saber mais a quem deve lealdade: se a coroa britânica ou aos beduínos.

O Filme

Baseado na vida do tenente-coronel T. E. Lawrence (1888 - 1935), em especial no seu papel junto à Revolta Árabe de 1916, LAWRENCE DA ARÁBIA é uma das melhores cinebiografias feitas até hoje. O que por si só já é um feito, visto que a maioria das cinebiografias geralmente resultam inócuas e pouco interessantes como narrativa cinematográfica. Preocupado em tentar desvendar e entender a jornada de um inglês nascido no interior da Inglaterra que acabou se tornando líder dos beduínos do deserto, David Lean realizou aquele que é considerado o maior épico da história do cinema, influenciando diretores como Steven Spielberg, Martin Scorsese e George Lucas.


O verdadeiro Lawrence, aos 28 anos, modificando a face geopolítica do mundo.

Filmado em 70 mm com fotografia de Freddie Young, LAWRENCE DA ARÁBIA é até hoje, o filme que melhor explora a beleza e a profundidade estética do deserto. Nem mesmo DUNA (1984), de David Lynch, que se passava quase todo em um planeta saariano, conseguiu cenas tão belas quanto o diretor britânico. Para tanto, Lean fez questão de assistir aos westerns de John Ford filmados no Arizona para aprender a lidar com o contraste homem x natureza.

Escrito por Robert Bolt e Michael Wilson baseado no livro OS SETE PILARES DA SABEDORIA, de autoria do próprio Lawrence, o roteiro inicialmente escrito por Wilson priorizava os acontecimentos e motivações políticas mais do que a própria figura de Lawrence. Insatisfeito, Lean chamou Bolt para reescrever o roteiro concentrando-se mais na figura carismática, afetada, intelectual e heróica de Lawrence.


Peter O’Toole, praticamente um desconhecido na época, tornou-se um dos mais populares atores ingleses dos anos 60 e 70.


Com quase 4 horas de duração, a produção levou mais de um ano para ser filmada, graças ao detalhismo de Lean, que além de recriar as 300 casas e prédios da fortificação turca de Aqaba em um leito de rio seco na Espanha, contou com quase mil extras montados em camelos e cavalos em várias cenas. E é nesses momentos em que se percebe o impacto na tela que uma cena com cenários, atores e animais reais pode conferir ao espectador, diferente da maioria dos épicos atuais, onde quase todos os cenários e extras são CG.

A excelente direção de Lean também se destaca sobre os atores e a escalação do elenco, que foi bastante complicada. Antes de O’Toole ser escalado, Albert Finney, Marlon Brando e Alec Guinness eram cotados para o papel de Lawrence. Guiness inclusive já havia feito o papel de Lawrence em uma peça, mas foi considerado velho para o personagem no cinema e lhe foi dado o papel de príncipe Feisal, um líder beduíno realista e ardiloso. Outras grandes performances do filme ficam por conta de Omar Sharif como Sherif Ali, sempre desafiador e cheio de dúvidas em relação à Lawrence; Anthony Quinn como Auda Abu Tayi, um líder beduíno cujos interesses são a glória da batalha e os espólios da guerra e Claude Rains, como Mr. Dryden, um político francês manipulador que demonstra como o mundo ocidental via o mundo árabe da época. Além desses, diversos outros grandes atores da época atuam neste raro filme onde não há um único personagem feminino que tenha uma fala sequer. No mundo árabe e militar da época, mulheres simplesmente não tinham voz. Bem, em várias partes do mundo árabe de hoje, muitas mulheres continuam não tendo voz. Algumas coisas custam a mudar...


Quando Quinn surgiu no set completamente maquiado e incrivelmente semelhante a fotografia do verdadeiro Abu Tayi, David Lean, que não o reconheceu, disse ao seu assistente que avisasse Quinn que ele seria substituído por aquele “ator árabe” que acabara de chegar.

Assim no filme como na vida real, Lawrence foi uma daquelas pessoas extraordinárias que ajudaram a mudar a face do mundo. Tanto para o Bem quanto para o Mal, como qualquer pessoa de seu calibre. Dotado de uma personalidade destemida, curiosa e magnética, Lawrence é um líder nato que desafia à tudo e todos em sua ambição para provar algo que só ele sabe o que é. Nascido em outros tempos, Lawrence poderia ter sido um novo Júlio César ou Alexandre, O Grande. Mais para Alexandre talvez, dado o fato de que nunca se casou ou demonstrou muito interesse pelo sexo feminino, um dos motivos pelos quais não há mulheres ou interesses românticos no filme. E ao desafiar os homens e os elementos e suceder diante de todas as adversidades e batalhas, Lawrence se torna quase um profeta, um novo messias. Isso é construído no filme em diversos momentos, mas destaco dois aqui que tem relação direta com o novo testamento: a meditação solitária no deserto e a cena em que Lawrence anda sobre uma poça d’água e gargalha debochadamente.

Quando lançado na época, o filme foi um enorme sucesso de público e crítica e continua até hoje entre os melhores filmes do cinema mundial em praticamente qualquer lista feita por críticos e instituições cinematográficas. Das 21 indicações que teve na época entre Oscar, BAFTA e Globo de Ouro, o filme faturou 16 dos principais prêmios, incluindo os Oscar de Melhor Filme e Diretor. Merecidamente.


No seu retorno ao deserto, após ter sido sexualmente abusado pelos turcos, Lawrence cerca-se de assassinos e criminosos como seus guarda-costas pessoais.
Mais uma alusão debochada à Cristo e seus apóstolos?


Mas como toda cinebiografia, ainda mais uma dirigida por um autor do porte de Lean, LAWRENCE DA ARÁBIA toma diversas liberdades em favor da narrativa tanto sobre o personagem quanto com determinados fatos históricos, como quando surge o repórter que buscar fazer de Lawrence um herói guerreiro para os jornais americanos na tentativa de convencer os EUA a entrar na guerra quando na verdade, naquela época, eles já estavam engajados nela. Também no Oriente Médio, o filme foi extremamente criticado por sua visão dos árabes e apenas no Egito, terra de Omar Sharif, o filme teve uma ampla exibição.

Um retrato singular e único da Revolta Árabe de 1916 e de alguns personagens que dela participaram, LAWRENCE DA ARÁBIA, além de ser um grande filme épico de aventura, não deixa de lado a política, mostrando o início de uma expansão imperialista e de um choque de culturas no Oriente Médio que ecoa hoje em dia na forma de aviões chocando-se em arranha-céus, homens-bomba e uma insana e maquiavélica Guerra ao Terror que mata dez vezes mais inocentes.


Trailer




Boa sessão.


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Comentários

Charlie Dalton disse…
Fiquei curioso. Vou ver se o rapaz da videolocadora me arranja esse dvd.

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