A RESPOSTA - Conto



Em algum ponto do Oceano existia uma pequena ilha cercada de moais maiores e mais sofisticados do que os de Rapa Nui, a ilha onde vivo. Somente o pai de meu pai sabia a localização que o pai de seu pai lhe havia passado. É claro, esta ilha de moais gigantes cujos olhos brilhavam e piscavam em direção às estrelas não estava mais em nosso mundo, segundo o pai de meu pai. E foi nesta ilha que um de meus ancestrais, um poderoso feiticeiro, se exilou para esperar pela Resposta prometida pelos Deuses em uma visão.

E sua visão, como todas as visões naquela época, se mostrou verdadeira quando depois de tantas luas quanto é possível para um feiticeiro viver, os Deuses vieram. Meu ancestral, então um ancião, recebeu-os com as devidas reverência e honrarias. A longa idade não lhe importava mais já que ele, enfim, teria a Resposta.

Os Deuses falaram. E suas vozes eram como ondas batendo contra rochas. E após falarem durante muitas marés, ofereceram um presente ao meu ancestral. Era a Resposta. Meu ancestral, então, agradeceu com o ritual apropriado e eles se foram, retornando ao Mundo Superior.

O que aconteceu a seguir foi que meu ancestral, velho e cansado, tentou descer a encosta segurando a Resposta em uma das mãos. Uma pedra rolou sob seus pés, ele escorregou e para não cair e morrer, ele soltou a Resposta. O que meu povo viu, aqui, da ilha onde vivo, foi a ira dos Deuses por meu ancestral ter deixado a Resposta cair. A semente de fogo caiu na ilha onde meu ancestral estava e uma grande árvore de fogo cresceu dela. Tão rápido que empurrou ondas gigantes e ventos em direção à nossa ilha, dizimando muitos do meu povo e colocando abaixo grande parte de nossas florestas. Quando tudo cessou, os mais bravos guerreiros pegaram suas canoas e foram à ilha que não mais existia, levada para o Mundo Superior. Por tal afronta, todos os guerreiros que foram ao local onde antes havia a ilha, sofreram a praga dos Deuses.
   
Desde então, os feiticeiros passaram a nos ensinar que a Resposta deve ser procurada no mundo espiritual, e não nos presentes que os Deuses oferecem.


Agosto, 1990.

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